A tensão no Oriente Médio forçou o retorno antecipado de uma comitiva de prefeitos e gestores públicos brasileiros que estava em Israel para conhecer tecnologias voltadas à segurança pública. Com o fechamento do espaço aéreo israelense, provocado pela escalada do conflito com o Irã, os representantes precisaram cruzar a fronteira terrestre rumo à Jordânia para conseguir deixar a região. A movimentação do grupo evidencia os riscos enfrentados por autoridades que, apesar de alertas oficiais, decidem manter compromissos em zonas instáveis.
A viagem da comitiva foi marcada por controvérsias desde o início. O Ministério das Relações Exteriores informou que os gestores ignoraram recomendações expressas do Itamaraty, que já havia emitido alerta consular desaconselhando deslocamentos a Israel, devido à instabilidade provocada pelos ataques entre o país e o Irã. Mesmo assim, o grupo partiu em missão oficial, a convite do governo israelense, para conhecer projetos de inovação tecnológica aplicáveis à segurança pública municipal no Brasil.
Com o agravamento da situação, que já contabiliza 248 mortos após cinco dias de confrontos diretos entre Israel e Irã, os prefeitos e gestores brasileiros iniciaram uma operação de retirada por via terrestre. Na manhã da segunda-feira, o grupo deixou Israel de ônibus e cruzou a fronteira com a Jordânia. De lá, seguiram até a Arábia Saudita, de onde embarcaram em direção ao Brasil em voos comerciais e em um jato particular.
Entre os integrantes da comitiva que conseguiu sair da zona de conflito estavam os prefeitos Álvaro Damião, de Belo Horizonte; Cícero Lucena, de João Pessoa; Welberth Porto, de Macaé; Johnny Maycon, de Nova Friburgo; além de vice-prefeitas, secretários municipais e representantes da Confederação Nacional de Municípios. Parte do grupo embarcou em um jato fretado pelo deputado federal Mersinho Lucena, filho do prefeito de João Pessoa, enquanto os demais seguiram em voo comercial até São Paulo.
A iniciativa de participar da missão internacional em meio a um cenário geopolítico altamente volátil gerou críticas por parte de especialistas em relações exteriores. A presença de autoridades brasileiras em Israel, mesmo diante de alertas, levantou debates sobre a responsabilidade institucional desses representantes e os riscos desnecessários aos quais se expuseram. O Ministério das Relações Exteriores reforçou que alertas consulares têm como objetivo preservar a integridade física de cidadãos e autoridades nacionais.
Apesar das críticas, os integrantes da comitiva defenderam a viagem como estratégica para o fortalecimento de parcerias em áreas como segurança e tecnologia urbana. Segundo eles, a missão resultaria em projetos aplicáveis nas cidades brasileiras, especialmente no combate ao crime e à violência urbana. No entanto, o episódio escancarou os dilemas enfrentados por autoridades que buscam inovação em um mundo cada vez mais sujeito a crises internacionais imprevisíveis.
A situação também reacendeu a discussão sobre a autonomia de prefeitos e secretários municipais em missões internacionais e a necessidade de maior coordenação com as diretrizes do governo federal, especialmente em contextos sensíveis como o atual conflito no Oriente Médio. A decisão de embarcar em uma viagem diplomática sem alinhamento com os protocolos do Itamaraty foi considerada por alguns analistas como um erro de avaliação e gestão de risco.
O retorno da comitiva ao Brasil ocorre em meio à continuidade dos bombardeios entre Israel e Irã, que segue mobilizando a atenção da comunidade internacional. A crise traz impactos não apenas geopolíticos, mas também humanitários, com centenas de mortos e milhares de deslocados. O episódio serve de alerta para autoridades brasileiras e reforça a importância de respeitar as orientações diplomáticas em situações de instabilidade global.
Autor: Lior Amarin